Fome de vida
Sabe quando você come, come, come e se sente vazia? Acho que esse é o sentimento que muitos de nós temos (uma das principais causas da obesidade). Chamo isso de FOME DE VIDA.
Eu tenho fome de vida. Todos os dias acordo, como, trabalho, como, volto para casa, como e espero a hora de dormir. Não faço nada além do que penso que os outros esperam de mim (e minhas expectativas são altíssimas). Aqui não estou reclamando da vida – sou grata a Deus por tantas bênçãos – mas sim critico o que faço com ela, com esse presente divino que me permite recomeçar todos os dias.
Penso que cada um de nós nasceu para nos realizarmos e evoluirmos. Mas o que fazemos nesse sentido?
Tenho uma amiga com quem sempre converso. É engraçado como ela sente essas mesmas angústias. Tem boa formação, emprego, família, estabilidade, noivo... Hoje perguntei a ela:
_Ana, o que você faz para te agradar, para te fazer feliz? – E ela:
_Malu... Eu nem sei o que me realiza, sempre tentei agradar os outros e nunca olhei para mim.
Essa é a fome de vida: é a necessidade de se alimentar de contentamento, de fazer algo que dê prazer, de agir em benefício próprio. Dançar, ler, viajar, fazer crochê, rezar, acampar... Quando não alimentamos nossa alma, padecemos da fome de vida. Comemos para ter prazer, para entupir um vazio existencial que deveria ser preenchido por realizações individuais.
Não confundamos a realização pessoal com a realização social. Às vezes não conseguimos distinguir o que realmente queremos com o que nos falam que deveríamos querer/conquistar. Falo por experiência própria: fiz duas faculdades, mestrado, participei de diversos cursos, até administrei uma empresa e hoje tenho um emprego bem legal. Tudo isso com (apenas?!) 26 anos.
Engraçado que já me sinto velha. São 26 anos agindo para agradar os outros. A aprovação dos amigos e familiares é, para mim, sinônimo de amor e aceitação. Hoje, enquanto definhava tentando escrever um projeto de doutorado, percebi que tal iniciativa era mais uma ação para me sentir “inteligente”.
Inteligência, foco, dinamismo, perspicácia... Rótulos com os quais sou constantemente agraciada. Possivelmente essa é a realidade criada como contrapartida de uma pessoa gorda e insegura. Buscando compensar o medo e a falta de amor próprio, eu como. No fundo, sei que me escondo na gordura e, assim, sinto fome de vida. Fome que me faz alimentar da morte... morte dos sonhos que são paulatinamente esquecidos... enfim... da morte de mim.